Nesse breve estudo, falaremos do homem como criação de Deus, para isso, precisamos recorrer a Antropologia. A Antropologia biblica é a matéria da Teologia sistemática, que estuda o que a Bíblia diz a respeito do homem. Antropologia é uma palavra que vem de dois termos gregos, antropos+logia que significa estudo do homem ou estudo da humanidade.

    Mas é importante, não confundir a antropologia teológica com a antropologia geral. A antropologia geral é o estudo cientifico que tem o homem como objeto de análise valendo-se de todas as ciências que tratam de sua origem, natureza e potencialidades, isso inclui a constituição e história da humanidade, a estrutura e características fisiológicas e psíquicas do homem, e seu desenvolvimento etnológico, cultural, linguístico e religioso. Já a antropologia bíblica se preocupa exclusivamente acerca do que a Bíblia revela acerca do homem. 

   Partindo desse pressuposto, devemos ter essa distinção em mente, pois enquanto a antropologia cientifica defende o surgimento do homem a partir de algum evento que possa ser comprovado cientificamente, o que até hoje não foi possível, pois tais estudos chegaram a conclusões hipotéticas apenas, de teorias e nada concreto de fato. Já a nossa antropologia bíblica nos garante, mediante a fé que fomos criados por Deus e embora não tenhamos evidências cientificas para comprovar o criacionismo, temos a nossa fé e para nós isso basta, pois não nos baseamos em ciência para entender esse assunto, nos atemos apenas em crer naquilo que as Escrituras nos mostra, a exemplo os textos de Gênesis 1:26-27 e Gênesis 2:7.

Como base em nosso estudo, usaremos o texto de Salmos 8.1-9.

1 - Ó SENHOR, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome em toda a terra, pois puseste a tua glória sobre os céus!

2 - Da boca das crianças e dos que mamam tu suscitaste força, por causa dos teus adversários, para fazeres calar o inimigo e vingativo.

3 - Quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que preparaste;

4 - que é o homem mortal para que te lembres dele? E o filho do homem, para que o visites?

5 - Contudo, pouco menor o fizeste do que os anjos e de glória e de honra o coroaste.

6 - Fazes com que ele tenha domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés:

7 - todas as ovelhas e bois, assim como os animais do campo;

8 - as aves dos céus, e os peixes do mar, e tudo o que passa pelas veredas dos mares.

9 - Ó SENHOR, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome sobre toda a terra!

O QUE É O HOMEM?

1. Criatura de Deus. Na Epístola aos Romanos, o apóstolo Paulo censura os gentios por honrarem mais a criatura do que o Criador (Rm 1.25). E assim, atolados em idolatrias e abominações, menosprezavam lhe a glória, a fim de adorar coisas vãs. O que é isto senão diminuir o Seu senhorio? Como feituras de Deus, temos por obrigação honrá-lo, porque Ele nos fez e Dele somos (Jó 4.17; Ec 12.1). O homem foi feito criatura e assim será sempre, não há homem que se compare a Deus, quando esse surgir, sabemos que será o Anti-Cristo.

2. Imagem e semelhança de Deus.O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26). Devemos, por conseguinte, agir como Deus age (Ef 5.1). Exorta-nos o Mestre: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5.16). Nossa imagem e semelhança a Deus, mostra o homem não como um semideus, mas serve para nos diferenciar de todo o restante da criação e tem como finalidade principal, a glorificação do nome Dele, em nós e através de nós.

3. Coroa da criação divina.Criado por Deus, destaca-se o homem como a coroa da criação (1 Co 11.7), pois tem, como missão, governar tudo quanto o Senhor fizera (Gn 1.28). Mas, isso não implica em dizer que o homem pode destruir aquilo que Deus criou como faz com a natureza por exemplo, mas governar no sentido de cuidar, de gerir, de ser o protetor de toda essa natureza, sempre lembrando que somos criaturas e não semideuses como já foi dito acima. Devemos ter cuidado, pois muitos se tornam antropocêntricos com base nesses textos, mas como nós sabemos a Bíblia é Cristo Centrica, Teocêntrica e nunca Antropocêntrica, portanto o homem não é centro de nada, pois está escrito que “Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas”(Rm 11:36).

OBJETIVOS DA CRIAÇÃO DO HOMEM

Vejamos por que o homem foi criado. Sua primeira tarefa é glorificar o nome do Criador.

1. Glorificar o nome de Deus.Lemos em Isaías 43:7, que Deus formou o homem para que este lhe refulgisse a glória.

2. Gerir tudo aquilo que Ele criou.Vemos em Gênesis 1:28-30, Deus entregar ao homem a responsabilidade de gerir e cuidar de tudo aquilo que ele já havia criado. E Deus tem uma espécie de orgulho ao entregar tudo para o homem cuidar e usufruir, pois no versículo 31 de Gênesis 1, a bíblia relata que após criar o homem e lhe confiar essa missão, o texto diz “ E viu Deus tudo o que tinha feito, e eis que era muito bom”.

3. Reinar, em nome de Deus, sobre a criação.Deus criou Adão para que reinasse sobre toda a terra (Gn 1.28) e sabemos que mesmo após a queda, o homem ainda em nossos dias, continua a gerir e usufruir de todo o restante da criação de Deus. Mas devemos ter em mente sempre, que somos apenas como “mordomos” desse mundo que Ele confiou a nós.

A NATUREZA DO HOMEM

   Como vimos acima, o homem foi criado por Deus, à sua imagem e semelhança(Gn 1:26 a 28), mas isso não quer dizer que Deus tenha um corpo como nós, pois Ele é espírito. O Deus encarnado em Cristo, Esse sim esteve aqui na Terra e devido ao projeto de redenção, se fez necessário que o Cristo tivesse um corpo humano e sentisse dor, fome, preocupações, fosse tentado, traído e até mesmo experimentasse a morte. Mas a essência divina de Deus é apenas Espírito. Portanto, devem-se evitar dois sérios equívocos, tais como: atribuir a Deus corpo físico e elevar o homem à classe divina.

   Todos entenderam? Nossa imagem e semelhança em relação à Deus na criação, quer dizer que assim somos no que diz respeito as questões morais, que Deus compartilhou conosco através de seus atributos comunicáveis, assim também, como somos seres intelectuais e capazes de pensar, temos vontades próprias e capacidade de criar coisas, dentre outros.

   E você deve estar se questionando.... Se não devemos atribuir a Deus um corpo, como explicar os seguintes textos biblicos: Pv 15:3; Is 66:1; 1Pe 5:6

   Se Deus é Espírito apenas, como explicar tais textos?

   Isso se chama Atropomorfismo que é um recurso de linguagem que atribuem características humanas a Deus com a única finalidade, do homem entender o que Deus quer falar naquele momento. Em seu amor, graça, misericórdia e bondade, Deus se comunica com o homem usando a linguagem do homem. Em outras palavras, podemos dizer que Deus desce ao nosso nível de comunicação para falar conosco em nossa própria linguagem. Como diz R. Sproul, Deus se comunica conosco como um pai fala com o seu filho pequeno.

   Portanto Deus é Espírito, mas ao se comunicar ao homem em algumas situações ele usa o antropomorfismo, para que possamos entender melhor o que Ele quer dizer, única e exclusivamente isso.

QUANTO A NOSSA NATUREZA, SOMOS.....

Dicotômicos: Corpo + alma e espírito

                          OU

Tricotômicos: Corpo+alma+espírito

Em qual das duas correntes vocês creem?

   Vou deixar aqui a minha visão e entendimento teológico, sobre o assunto. Segundo os textos de 1 Ts 5.23 e Hb 4.12, a natureza humana é constituída por espírito, alma e corpo. O espírito e a alma compõem a parte imaterial, invisível e substancial do homem. Isto não quer dizer que o homem é um ser tripartido, isto é, composto por três partes independentes uma das outras. Pelo contrário, espírito, alma e corpo (tricotomia), se distinguem, mas compõem apenas um ser, a saber o homem. O corpo relaciona o ser com o mundo material e concreto, a alma, onde habita a personalidade humana, relaciona o ser consigo mesmo e dá vida ao corpo (na alma estão nossas volições, nossos sentimentos, nossos pensamentos e o nosso livre arbítrio...), o espírito, elemento singular do homem, relaciona o ser com Deus. Portanto, o relacionamento do homem é tríplice: horizontal, central e vertical. No horizontal, o corpo relaciona-se com o mundo físico; no central, a alma relaciona-se consigo mesma, com seu interior; no vertical, o espírito relaciona-se com Deus.

   Nosso corpo existe para a vida na Terra, nosso espírito voltará para Deus e nossa alma viverá a eternidade, ou no céu ou no inferno. Entretanto essa é aminha visão teológica como disse acima, mas respeito às opiniões diferentes da minha, pois isso não implica em nada do que diz respeito à salvação, que só se dá mediante o sacrifício expiatório de Cristo no calvário.

O FUTURO GLORIOSO DO HOMEM EM CRISTO

   Dotado de livre-arbítrio, o homem pecou contra o seu Deus (Gn 3). A sua transgressão, porém, não pegou a Deus de surpresa (Ap 13.8). Deus sempre soube o que ocorreria, referente a isso temos dois pontos de vista teológicos. Na visão Arminiana da presciência, podemos dizer basicamente que Deus detém o conhecimento e a certeza de quem seria salvo ou não, de outro lado, estão os Calvinistas, os quais defendem a doutrina da predestinação, onde afirmam que Deus escolheu e determinou quem seria salvo ou não, mas não entraremos nesse mérito agora, talvez em outra aula. Pois se trata apenas de uma questão Teológica e que assim como o assunto anterior, não implica em qualquer mudança no que tange a ser salvo ou não por seguir o Arminianismo ou Calvinismo.

   Através de Cristo, provê-nos eterna e suficiente redenção, dispensando-nos um tratamento tão especial. Somos, portanto, conhecidos como:

1. Filho de Deus.Aceitando a Cristo, o homem não é apenas criatura de Deus, mas filho de Deus (Rm 8.15; Gl 4.6) nessa condição, temos livre acesso ao Pai, pois o véu que nos separava foi rasgado de cima a baixo, conforme Mc 15:38.

2. Co-herdeiro de Cristo.Sendo o homem filho de Deus, torna-se imediatamente co-herdeiro de Cristo (Gl 4.7; Rm 8.17), com livre acesso a todos os bens espirituais, inclusive o benefício imensurável da Salvação Eterna .

3. Templo do Espírito Santo.Nosso corpo é o templo e habitação do Espírito Santo (1 Co 6.19). Antes do Senhor Jesus partir para a glória, Ele nos deixou a promessa de que rogaria e o Pai nos enviaria o Espírito Santo Consolador e esse nunca nos abandonaria, conforme João 14:16.

4. A glorificação final.Como se não bastassem todas essas bênçãos, nós que recebemos a Cristo aguardamos a bem-aventurada esperança, de Sua vindato (Tt 2.13 e 14). Nossos corpos serão então, num abrir e fechar de olhos, gloriosamente transformados(I Cor 15:52). Mas e quanto à morte? Essa, não mais terá poder sobre nós, conforme nos garante Apocalipse 21:4.

    Coisa linda isso, pois mesmo após a queda de Adão, Deus envia o Filho e nos dá novamente esse acesso a Ele e somos adotados como filhos, somos co-herdeiros em Cristo, somos definitivamente Templos da habitação do Espírito Santo e um dia teremos um corpo transformado, incorruptível, imortal e glorificado conforme 1Cor 15:54. Aleluia!

   Mas e o destino final do homem sem Cristo?

O FUTURO TERRÍVEL DO HOMEM SEM CRISTO

   Em nossos dias, a ideia de tormento e condenação eterna é difícil para muitas pessoas entenderem. Mas por que isso? Se a Bíblia deixa claro que o inferno é um lugar literal, de sofrimento e consciência (Lc16:19-31). Esse destino final do homem sem Cristo nos é mostrado como a condenação e sofrimento eternos, conforme Mt 25: 41 a 46. Ocorre que em nossos dias, inclusive em doutrinas de alguns seguimentos religiosos que se intitulam cristãos protestantes, defendem que não haverá um sofrimento eterno. Não entraremos hoje, em um aprofundamento sobre o tema, pois teríamos que abordar outras correntes que defendem a aniquilação da alma, outras que defendem um estágio de sofrimento temporário, dentre outras que contrariam todo um contexto bíblico sobre o assunto. Pois é exatamente com base em todo um contexto bíblico, que podemos afirmar, que, existe sim, uma vida eterna que será ao lado de Deus com gozo e paz, como também haverá uma vida eterna de sofrimento e dor. Caso contrário não seria necessário um plano de redenção, Deus simplesmente salvaria a todos, conforme ensina a doutrina universalista e estaria tudo resolvido.

CONCLUSÃO

   O homem foi criado para glorificar a Deus, sendo a única criatura, dotada de atributos que são do próprio Deus. Embora o pecado tenha-o destituído da glória divina, o homem não ficou abandonado à própria sorte (Rm 3:23 a 26). O Pai Celeste providenciou-lhe eficaz redenção por intermédio de Cristo Jesus. Hoje, somos chamados filhos de Deus, apesar de não ter se manifestado ainda a plenitude de nosso ser (1 Jo 3.2). Mas quando Cristo voltar, seremos tomados por Ele e, assim, estaremos para sempre em sua companhia.

Que o Senhor abençoe sua vida!!!

Pr. Carlos Leandro Fernandes